Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, nasceu enm 29 de agosto de 1730, na cidade de Vila Rica.
Pouco se sabe com certeza sobre sua biografia, que permanece até hoje
envolta em cerrado véu de lenda e controvérsia, tornando muito árduo o
trabalho de pesquisa sobre ele e ao mesmo tempo transformando-o em uma
espécie de herói nacional. A principal fonte documental sobre o
Aleijadinho é uma nota biográfica escrita somente cerca de quarenta anos
depois de sua morte. Sua trajetória é reconstituída principalmente
através das obras que deixou, embora mesmo neste âmbito sua contribuição
seja controversa, já que a atribuição da autoria da maior parte das
mais de quatrocentas criações que hoje existem associadas ao seu nome
foi feita sem qualquer comprovação documental, baseando-se apenas em
critérios de semelhança estilística com peças documentadas.
Muitas dúvidas cercam a vida de Antônio Francisco Lisboa.
Praticamente todos os dados hoje disponíveis são derivados de uma
biografia escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, 44 anos após
a morte do Aleijadinho, baseando-se alegadamente em documentos e
depoimentos de indivíduos que haviam conhecido pessoalmente o artista.
Contudo, a crítica recente tende a considerar essa biografia em boa
medida fantasiosa, parte de um processo de magnificação e dramatização
de sua personalidade e obra, numa manipulação romantizada de sua figura
cujo intuito era elevá-lo à condição ícone da brasilidade, um misto de
herói e artista, um "gênio singular, sagrado e consagrado", como
descreveu Roger Chartier. O relato de Bretas, contudo, não pode ser
completamente descartado, pois sendo a mais antiga nota biográfica
substancial sobre Aleijadinho, sobre ela se construiu a maioria das
biografias posteriores, mas as informações que traz precisam ser
encaradas com algum ceticismo, sendo difícil distinguir o que é fato do
que foi distorcido pela tradição popular e pelas interpretações do
escritor. Biografias e estudos críticos realizados pelos modernistas
brasileiros na primeira metade do século XX também fizeram
interpretações tendenciosas de sua vida e obra, aumentando a quantidade
de estereótipos em seu redor, que ainda hoje se perpetuam na imaginação
popular e em parte da crítica, e são explorados tanto por instâncias
culturais oficias como pelas agências de turismo das cidades onde ele deixou sua produção.
A primeira notícia oficial sobre Aleijadinho apareceu em 1790 em um
memorando escrito pelo capitão Joaquim José da Silva, cumprindo ordem
régia de 20 de julho de 1782 que determinava se registrassem em livro
oficial os acontecimentos notáveis, de que houvesse notícia certa,
ocorridos desde a fundação da Capitania de Minas Gerais.
O memorando, escrito ainda em vida de Aleijadinho, continha uma
descrição das obras mais notáveis do artista e algumas indicações
biográficas, e em parte nele se baseou Bretas para escrever os Traços
biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto
escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho, onde reproduziu trechos do documento original, que mais tarde se perdeu.
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, era filho natural de um respeitado mestre de obras e arquiteto português, Manuel Francisco Lisboa, e sua escrava africana, Isabel. Na certidão de batismo
invocada por Bretas consta que Antônio, nascido escravo, fora batizado
em 29 de agosto de 1730 na então chamada Vila Rica, atual Ouro Preto, na
freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, tendo como padrinho Antônio dos Reis e sendo alforriado
na ocasião por seu pai e senhor. Na certidão não consta a data de
nascimento da criança, que pode ter ocorrido alguns dias antes. Entretanto, há argumentos fortes que levam atualmente a se considerar mais provável que tenha nascido em 1738,
pois em sua certidão de óbito consta como data de seu falecimento 18 de
novembro de 1814, acrescentando que o artista tinha então 76 anos de
idade. A data de 1738 é aceita pelo Museu Aleijadinho localizado em Ouro Preto, e segundo Vasconcelos o manuscrito original de Bretas, encontrado no arquivo da Arquidiocese de Mariana,
remete o nascimento a 1738, advertindo corresponder a data ao
registrado na certidão de óbito do artista; o motivo da discrepância
entre as datas no manuscrito e no opúsculo que foi impresso não é clara.
Em 1738 seu pai casou com Maria Antônia de São Pedro, uma açoriana, e
com ela deu quatro meios-irmãos a Aleijadinho, e foi nesta família que o
artista cresceu.
Segundo Bretas o conhecimento que Aleijadinho tinha de desenho, de arquitetura e escultura fora obtido de seu pai e talvez do desenhista e pintor João Gomes Batista.
Terá frequentado o internato do Seminário dos Franciscanos Donatos do
Hospício da Terra Santa de 1750 até 1759, em Ouro Preto, onde aprenderia
Gramática, Latim, Matemática e Religião.
Entrementes, assistia seu pai nos trabalhos que ele realizava na Matriz
de Antônio Dias e na Casa dos Contos, trabalhando também com seu tio
Antônio Francisco Pombal, entalhador, e Francisco Xavier de Brito. Colaborou com José Coelho Noronha na obra da talha dos altares da Matriz de Caeté, projeto de seu pai. Data de 1752 o seu primeiro projeto individual, um desenho para o chafariz do pátio do Palácio dos Governadores em Ouro Preto.
Em 1756 pode ter ido ao Rio de Janeiro acompanhando Frei Lucas de Santa Clara, transportador do ouro e diamantes que deveriam ser embarcados para Lisboa,
onde pode ter recebido influência dos artistas locais. Dois anos depois
teria criado um chafariz de pedra-sabão para o Hospício da Terra Santa,
e logo em seguida lançou-se como profissional autônomo.
Contudo, sendo mulato, muitas vezes foi obrigado a aceitar contratos
como artesão diarista e não como mestre. Da década de 1760 até próximo
da morte realizou uma grande quantidade de obras, mas na ausência de
documentação comprobatória, diversas têm uma autoria controversa e são a
rigor consideradas apenas atribuições, baseadas em critérios de
semelhança estilística com sua produção autenticada.
Em 1767 morreu-lhe o pai, mas Aleijadinho, como filho bastardo, não foi
contemplado no testamento. No ano seguinte alistou-se no Regimento da
Infantaria dos Homens Pardos de Ouro Preto, onde permaneceu três anos,
sem descontinuar sua atividade artística. Neste período recebeu
encomendas importantes: o risco da fachada da Igreja de Nossa Senhora do
Carmo, em Sabará, e os púlpitos da Igreja São Francisco de Assis, de Ouro Preto.
Em torno de 1770 organizou sua oficina, que estava em franca expansão, segundo o modelo das corporações de ofícios ou guildas medievais, a qual em 1772 foi regulada e reconhecida pela Câmara de Ouro Preto.
Ainda em 1772, no dia 5 de agosto, foi recebido como irmão na Irmandade
de São José de Ouro Preto. Em 4 de março de 1776 o governador da
Capitania de Minas, Dom Antônio de Noronha, cumprindo instruções do
vice-rei, convocou pedreiros, carpinteiros, serralheiros e ferreiros
para integrarem um batalhão militar que trabalharia na reconstrução de
um forte no Rio Grande do Sul.
Aleijadinho teria sido obrigado a atender ao chamado, chegando a se
deslocar até o Rio de Janeiro, mas então teria sido dispensado. No Rio
providenciou o averbamento judicial da paternidade de um filho que
tivera com a mulata Narcisa Rodrigues da Conceição, filho que se chamou,
como o avô, Manuel Francisco Lisboa. Mais tarde ela o abandonou e levou o filho para o Rio, onde ele se tornou artesão.
Em 1796 recebeu outra encomenda de grande importância, para a realização de esculturas da Via Sacra e os Profetas para o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, consideradas a sua obra-prima. No censo de 1804 seu filho apareceu como um de seus dependentes, junto com a nora Joana e um neto.
Entre 1807 e 1809, estando sua doença em estado avançado, a sua oficina
encerrou as atividades, mas ele ainda realizou alguns trabalhos. A
partir de 1812 sua saúde piorou e ele passou a depender muito das
pessoas que o assistiam. Mudou-se para uma casa nas proximidades da
Igreja do Carmo de Ouro Preto, para supervisionar as obras que estavam a
cargo de seu discípulo Justino de Almeida. A esta altura estava quase
cego e com as capacidades motoras grandemente reduzidas.
Por um breve período voltou para sua antiga moradia, mas logo teve de
acomodar-se na casa de sua nora, que de acordo com Bretas se encarregou
dos cuidados de que necessitava até que ele veio a falecer, em 18 de
novembro de 1814. Foi sepultado na Matriz de Antônio Dias, em uma tumba
junto ao altar de Nossa Senhora da Boa Morte, de cuja festa pouco antes
tinha sido juiz.
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