segunda-feira, 26 de março de 2012

"Portal"


"Tem coisas que são como grandes portais do tempo. Que nos lançam, nos regressam a pontos do passado que são como marcos em nossa vida. São filetes de memória, partes de um quebra-cabeça ao qual fomos perdendo as peças, até que restassem somente algumas muito arranhadas pelo tempo. Todavia estas mesmas ranhuras ainda podem ser reavivadas por lances melancólicos de saudades. Pois que a vida cravou em nós até mesmo os perfumes da natureza, que caudalosos atinam e fomentam o ser. E assim são também as fotografias, as músicas, as cores, os perfumes e os lugares que funcionam como alavancas para o cérebro.

Quem sabe esta saudade, este vazio, não passe de um pretexto para chorarmos um pouco. Por que “Imagine” me faz sentir tão perdido? Ou talvez seja eu em toda essa melancolia. Sei lá... O mundo anda tão complicado, cheio de mensagens para que eu e tu decifremos, ou pelo menos tentar mover a torre.

Será que a beira da loucura sentimos saudades d'alguma coisa, como do tempo em que são esquecia a panela no fogo antes de ir ao banco pagar a conta de água que esta atrasada a quase um mês. Agora desfaça todo emaranhado, mas não se faça de vitima, nem tente se fazer blindar no espírito, nem se jogue pela janela só por ela esta aberta.

Às vezes nos privamos de coisas tão simples, até que olhamos para trás e lá estão elas te esperando para que um dia retorne. É a chance de sua vida. Não porque seja importante, mas porque foi daquele momento em diante que passamos a negligenciar momentos que poderiam ter sido de grande felicidade. Como quando choro e nenhuma lágrima sai, içando presa nalgum lugar. É tudo que você tem para dar ao mundo, mas o mundo quer mais, porque sabe que você pode dar ainda mais. Tem um ponto na tua testa que diz que você precisa acordar cedo, mas você não acorda cedo mesmo estando com os olhos abertos. Ainda não consegue ver o jardim que espera para ser plantado e espera para florescer na próxima estação.

Sabe, uma vez eu estava esperando muito por uma festa: comprei roupas novas, cotei o cabelo, tudo para parecer ou melhor, para aparecer para outras pessoas. Um verdadeiro vazio na vida. Um vazio que só percebemos depois que tiramos as máscaras e nos livramos de tamanho peso. Costumo dizer que algumas lembranças podem melhorar muito o ser humano. Não esquecer quem somos e de onde viemos.

Eu quero uma “CASA NO CAMPO” ou em qualquer lugar bem sossegado para receber meus amigos e ter onde guardar meus CDs e onde possa pintar minhas telas. Visto que assim são as lembranças, que se tornam vagas, que vão ficando mais ralas e se extinguem na memória. Mas um dia elas ressurgem, como quando vi aquele velho pente de osso igual ao que minha avó usava prendendo o cabelo. É a sensação mais suave que uma pessoa pode ter. Olhar o passado através de um objeto que deu vida a memórias perdidas."


(Escrevi este texto no dia 15 de março de 2000. Não sei o motivo de tais palavras ou que estava se passando em minha cabeça. O que afirma a força do que escrevi como fragmentos que o tempo quase apaga.)

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