terça-feira, 28 de maio de 2013

"Réstia"

"Das pestes vagas nos desertos,
Conforme seja dado por morto.
Faz de ti a figura que desaparece
Da penumbra tosca dum encosto.

Conforme o dito por não dito,
Do calar repentino veio grito.
De súbito a voz perdida
Canta o desencanto em vida.

Que busca o abraço largo
No mais estreito dos fardos:
Como quem perde a alegria
Rente ao lábio desejoso.

Lança ao vento tuas palavras,
Pois de ti doces a amargas.
Minto a mim mesmo o querer
Para morrer conformado.

Quem me dera este absinto,
Sorvesse como se tu fosse.
Tal qual guerreiro vitorioso 
A devorar quem foi vencido.

Não demora muito agora,
Com o sol a romper aurora.
Rasga...
Nem sequer chora.

Dorme criatura vil.
Nem se apercebe que vou...
Que mesmo querendo ficar...
E fico de tolo que sou.

Sangro dos pés que te rondam,
Um menestrel incansável.
Cativo...
De quem se faz envaidecido. 

Reside em mim ultimo alento
Que de ti nada sustenta...
A não ser min'halma incauta
Em pleno descontentamento.

Dorme...Que do alto da muralha,
Donde quase tudo vejo,
E me esvazio do mundo
No meu imenso desejo."

quinta-feira, 23 de maio de 2013

MODIGLIANI


AMADEO CLEMENTE MODIGLIANI, nascido em Livorno na Itália, em 12 de julho de 1884. Ele foi o quarto filho de Flaminio Modigliani e Eugénie Garsin, que era filha de Isaac e Régine Garsin. Na época, os Garsin eram relativamente abastados - sobretudo um dos irmãos de Eugénie, Amédée Garsin, que enriquecera especulando com imóveis e mercadorias. No entanto os Modigliani tinham empobrecido, chegando à falência. Flaminio dedicava-se aos vários negócios da família, que incluíam mineração e agricultura na Sardenha, além de atividades comerciais em Livorno. Mas os negócios andaram mal. Foi o nascimento de Amedeo que salvou a família da ruína total, pois, de acordo com uma lei antiga, os credores não podiam tomar a cama de uma mulher grávida ou de uma mãe com um filho recém-nascido. Os oficiais de justiça entraram na casa da família, justamente quando Eugénie entrou em trabalho de parto. A família então protegeu seus pertences mais valiosos colocando-os por cima da cama da parturiente.


Quando criança foi acometido por várias doenças graves - pleurisia, tifo e tuberculose, que comprometeram sua saúde pelo resto da vida e cujo tratamento forçava-o a constantes viagens, até sua mudança definitiva para Paris, em 1906. Devido ao problemas de saúde não pôde ter educação formal e voltou-se para o estudo da pintura, iniciado na cidade natal, que prosseguiu em Veneza e Florença. Foi sua mãe que teve importante papel em sua educação, sendo estas aulas até os dez anos de idade. Os primeiros desenhos surgiram de forma precoce, antes mesmo de ir para a escola. Aos quatorze anos, durante uma crise de febre tifoide, ele delirava e, em seu delírio, falava que queria acima de tudo ver as pinturas no Palazzo Pitti e nos Uffizi, em Florença. Sua mãe então prometeu a ele que, assim que se recuperasse, ela o levaria a Florença; de fato, não só cumpriu a promessa como permitiu que o filho fosse trabalhar no estúdio de Guglielmo Micheli, um dos pintores mais conhecidos de Livorno, de quem Amedeo recebe as primeiras noções de pintura. Foi lá que adquiriu grande conhecimento e com grande voracidade captava tudo que estava ao seu redor e nutria sua alma de todo esplendo e paixão por pintura. No ateliê de Micheli, ele conhecerá, em 1898, o grande Giovanni Fattori, sendo assim influenciado pelo movimento dos Macchiaioli, em particular pelo próprio Fattori e por Silvestro Lega.


Era um boêmio, um homem da noite que apreciava absinto e retratava suas raparigas nuas e que muito escandalizaram a sociedade da época. Não tem como não ficar apaixonado por suas aventuras amorosas e pelas belas telas nascidas de tais paixões. Um homem que evocava Cézanne em suas pinturas, com sua paixão notada pelos traços da arte africana. Sim, foi na arte africana que ele mais espelhou sua obra, com suas formas alongadas e de uma falsa beleza singela. Falsa, pois existe ai um grande engano, vejo nelas uma complexidade e uma força a qual não consigo descrever.

Certa vez ele procurou um negociante de artes para vender algumas de suas telas, e o negociante sabendo de suas necessidades ofereceu uma quantia irrisória pelos quadros, ofendido, o pintor pega uma vara fura as telas e sai pelas ruas com elas penduradas às costas.

Em 1906, Modigliani transfere-se para Paris e, ao fim de três anos de vida boêmia, executa uma de suas obras mais importantes: O violoncelista, que expôs no Salão dos Independentes de 1909.


Sua grande musa foi Jeanne Hébuterne, uma joven de dezenove anos que estudava na Académie Colarossi e com quem teve uma filha, Jeanne, em 1918. Complicações na saúde fazem o pintor viajar para o sul da França com a esposa e a filha, a fim de recuperar-se. Retorna a Paris ao final de 1918.

Estava cada dia pior e não tinha muito a ser feito. Foi na noite de 24 de janeiro de 1920, aos 35 anos, Modigliani morre de tuberculose. No dia seguinte à morte do companheiro, Jeanne, grávida de nove meses, suicida-se, atirando-se do quinto andar de um edifício. Uma grande multidão assiste o funeral de de ambos no famoso Cemitério do Père-Lachaise, em Paris. A filha Jeanne é adotada pela irmã de Modigliani, e mais tarde veio a escrever a biografia de seu pai.